O despertador toca, mas no ápice do sonho lhe soa como alarme de carro roubado. A coisa toda se confunde em sua cabeça e ele percebe que é melhor acordar. Tinha durmido apenas 5 horas, mas que pareceram apenas 5 minutos, e olhe lá. Ele bota a mão na cabeça como quem diz: "Caramba, que foi que me bateu?". Tenta se localizar no tempo-espaço. Está no quarto, com o edredon cheirando a mofo e a boca a coisa pior. Era segunda-feira!
Havia tanto álcool sobrando em seu sangue que ele não sabia o que fazer primeiro. Botaria a calça? Iria ao banheiro? Voltaria pra cama? Por via das dúvidas foi ao toilet. Lavou bem a cara, tentou inutilmente tirar o cheiro fétido da boca, e encarou-se no espelho. O que ele viu?
Os olhos verdes não tinham mais o mesmo brilho ante as olheiras profundas que adquiriu no final de semana e o rosto estava pálido como nunca. Parecia completamente desfigurado.
Como ir trabalhar assim, questionou-se. As combinações etílicas do churrasco de domingo foram tão devastadoras que ele se viu obrigado a abraçar o vaso pra poder dormir em paz.
Enfim, ergueu o rosto, estufou o peito, colocou a calça, vasculhou o armário atrás de uma camiseta limpa e caminhou em direção a cozinha trocando as pernas. O café da manhã parecia intragável, tamanho era o reboliço em seu estômago. A torrada que levava 5 minutos para ser devorada levou 20. Pensou pelo lado bom da coisa: pelo menos deceu e ficou.
Entre um gole de café e outro refletia sobre o churrálcool e sobre a loira gostosa que dançava ao som do "Titanic". Pensou se valeu a pena a bebedeira em pleno final de domingo, mesmo já sabendo das prováveis consequências, se deveria ter bebido tanto, se repetiria a dose um dia desses, se fazia bem pra sua saúde. Pensou nos amigos, pensou nas histórias contadas, pensou nas mulheres, pensou demais. Já eram 7:40 e o primeiro ônibus já havia passado. Estava na hora de encarar a dura realidade.
Pegou a passagem, a bolsa e calçou os sapatos. Pensou mais uma vez na loira gostosa e concluiu: ela era realmente gostosa!
Abriu a porta e foi-se embora cambaleando.
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